Setor de papelão ondulado deve reajustar preços para equilibrar altos custos
Segundo fontes do setor, o mercado já experimentou aumentos significativos em 2024 e há espaço para novos reajustes de até 10% no quarto trimestre
O ano de 2024 apresentou um cenário aquecido para o setor de embalagens, com a expedição de papelão ondulado registrando diversos recordes em volume expedido. De acordo com Rafael Barišauskas, economista da Fastmarkets para América Latina, a demanda está mais aquecida principalmente devido ao aumento na exportação de proteína animal, bem como uma crescente na exportação de papel no Brasil, ambas impulsionadas pelo câmbio favorável. Já na parte da oferta, as paradas programadas também impactam o setor, especialmente no último trimestre, que é marcado por um forte consumo.
“O balanço entre oferta e demanda doméstica está ficando ligeiramente mais apertado do que estava no começo deste ano”, observa Barišauskas e indica que essa movimentação de mercado não é inesperada, tampouco fora do comum.
Embora o panorama seja positivo na parte da demanda, o setor é contrabalanceado pelos custos crescentes que apertam as margens e devem levar a reajustes de preços. Nesse sentido, o setor de packaging depende de insumos que sofrem com a volatilidade internacional, como energia e celulose, que têm apresentado uma espiral crescente de reajustes.
“Também existe uma pressão inflacionária no mercado, já prevista pela Fastmarkets. O prognóstico para este ano é de aumento de custos ao longo da cadeia, não apenas por conta do câmbio, mas também pelos custos com celulose e energia”, aponta o economista. “Observamos um aumento de custos ao longo da cadeia que está sendo repassado até a ponta, na embalagem”.
O primeiro semestre deste ano foi marcado por aumentos no preço da celulose, contrariando as expectativas para o período, impulsionado principalmente pelos custos com a madeira – um recurso cada vez mais disputado em diversas indústrias de base florestal. Para os fabricantes que também produzem a partir de fibras recicladas o cenário também é desafiador, em meio a um desequilíbrio entre a alta demanda e oferta apertada de aparas de papelão ondulado.
“Vimos o mercado de aparas um pouco desabastecido por conta das enchentes no Rio Grande do Sul e outros problemas no mercado interno. O Brasil, inclusive, teve que importar aparas ao longo do segundo e terceiro trimestre para rebalancear o mercado interno e vimos os preços domésticos das aparas subirem”, comenta Rafael, embora indique que, de forma geral, a situação já foi equacionada..
“A indústria encontra-se perto de sua saturação. Isso cria um ambiente em que aumentos de preços são não apenas justificados, mas necessários para manter a saúde financeira das empresas e assegurar a continuidade de serviços”, afirma uma fonte do setor. “O mercado já experimentou aumentos significativos em 2024, e há espaço para novos reajustes de até 10% no quarto trimestre”, completa.
Diante disso, as empresas devem anunciar novos aumentos de preços até o final do ano, com intuito de repassar esses custos, que comprometem as margens, bem como a capacidade de novos investimentos.
Segundo fontes, “sem ajustes de preços, o setor corre o risco de ficar sucateado. Isso afetaria diretamente sua capacidade de responder à crescente demanda do mercado interno e externo, além de comprometer a introdução de inovações sustentáveis em um momento em que as regulamentações e preferências do consumidor pressionam por soluções ambientalmente responsáveis”.
PERSPECTIVA PARA 2024/2025
O panorama apresentado indica a expectativa para o quarto trimestre de 2024 e início de 2025 para um crescimento de volume moderado. Sem novos grandes projetos anunciados para o curto prazo, a capacidade do setor de investir no seu crescimento depende da rentabilidade no negócio, que se equilibra em meio a custos mais altos e uma demanda forte. Isso pode gerar uma possível desaceleração no setor.
“A indústria de embalagens de papelão ondulado no Brasil enfrenta um dilema crítico. Com custos crescentes e uma demanda elevada, os aumentos de preços são inevitáveis para garantir que as empresas mantenham sua capacidade de investir e atender à demanda do mercado. Sem esse movimento, o setor corre o risco de se deteriorar, comprometendo sua competitividade e a capacidade de responder às necessidades futuras do mercado”, declara outra fonte do setor.
Apesar desse cenário, não existe uma questão de desabastecimento e, segundo a Empapel, o Brasil dispõe de matéria-prima suficiente para atender seu mercado interno e até para exportar.
“Esses reajustes de preços têm espaço para acontecer. A Fastmarkets projeta aumento de preços nos próximos meses, sendo preços marginais e pontuais para o mercado”, conclui o economista.