Setor de embalagens tem oportunidades, mas ainda enfrenta desafios de produção
Especialistas acreditam que, apesar do crescimento de tendências como sustentabilidade e e-commerce, o mercado ainda enfrenta alta de custos, falta de insumos e gargalos logísticos

Na última semana, aconteceu a conferência latino-americana da Fastmarkets RISI, que discutiu as tendências e os desafios do setor de papel e celulose para os próximos anos. Dentre os temas abordados, o segmento de embalagens em papel recebeu destaque no último dia do evento, quando foram apontadas as principais tendências e expectativas para o futuro da indústria.
Considerando todo o setor papeleiro, este é o mercado que corresponde à maior parte da produção total e com apresentando crescimento exponencial nos últimos anos, com a expectativa de manter um avanço ponderado nos próximos anos.
Dentro dessa pauta, muito se falou a respeito de oportunidades como o e-commerce, um dos principais impulsionadores do consumo de embalagens no contexto pós-pandêmico, bem como a tendência de sustentabilidade, que fomenta a substituição do plástico pelo papel. No entanto, o setor ainda tem muitos desafios à frente, como os problemas logísticos globais, além da questão da alta de insumos e inflação generalizada ao redor do mundo.
TENDÊNCIA DE CRESCIMENTO
Durante painel sobre o futuro desse mercado, Fábio Almeida Oliveira, diretor executivo do Negócio de Papel e Embalagens da Suzano, afirmou que as tendências pós-pandemia “vieram para ficar”. Ele observou que os consumidores deixaram de ter grandes ressalvas com o e-commerce após a necessidade de isolamento e passaram a utilizar essa plataforma para realizarem suas compras – o que deve continuar impulsionando a demanda por embalagens.
Para Flávio Deganutti, diretor do Negócio de Papéis na Klabin, esse segmento não deve ter um crescimento tão grande, mas, sim “continuar crescendo moderadamente”. “Nós temos acompanhado algumas tendências que têm amadurecido, especialmente soluções em papel. Isso vale para sacos kraft, mas também para os multipacks e soluções para indústrias de alimentos, higiene e limpeza”, pontuou.
Na visão de Deganutti, o segmento é muito resiliente. Parte dessa força pode estar diretamente atrelada aos investimentos em inovação, como a criação de barreiras para embalagens com foco na indústria de alimentos e o uso de celulose microfibrilada.
“Aprendemos muito com a pandemia”, comentou Nilo Cottini Filho, CEO da Brasilgrafica. Para ele, esse foi um período para se aproximar mais dos consumidores, o que possibilitou insights por parte da indústria para entender quais são as possibilidades de se investir em inovação.
Do lado do público consumidor, um dos principais fatores destacados foi a necessidade de as indústrias substituírem os plásticos de uso único, já perceptível pela diminuição do material em embalagens – que passaram a levar polietilenos em sua composição.
SUSTENTABILIDADE E SUBSTITUIÇÃO DO PLÁSTICO
A transição do plástico para o papel vai além da questão da sustentabilidade, já que os custos para produção e os aspectos funcionais de cada material possuem diferenças – o plástico é um material mais barato, enquanto o papel carece de revestimentos (barreiras) para atingir a mesma funcionalidade.
Por essa razão, é necessário olhar para a cadeia do plástico como um todo, pois, para ampliar o uso do papel numa cadeia que durante anos utilizou outro material, é necessário fazer investimentos para transformar processos. Como exemplo, pode-se citar a atualização de maquinários para manter a produtividade e eficiência com um material alternativo.
Dessa forma, um dos principais desafios nessa substituição é o preço, que dificulta a competitividade entre os materiais, ainda que o papel tenha um valor pós-consumo mais amplo que o plástico.
Os executivos ressaltam que a tecnologia que possibilita a substituição em setores como o de alimentos e bebidas, que requerem uma barreira contra gordura ou umidade, já existem. Porém, ainda deve levar algum tempo para que ganhem escala para se tornar comercial.
LOGÍSTICA ESTÁ ENTRE OS PRINCIPAIS DESAFIOS
Alejandro Mata, diretor da região Europa para Embalagem da Fastmarkets RISI, também falou a respeito das tendências para o setor durante o evento. Para ele, entre os principais desafios que continuam a pungir o mercado, estão os gargalos logísticos.
“As interrupções logísticas continuam, assim como os congestionamentos portuários permanecem sendo um problema. As taxas de frete estão caindo, mas ainda restringindo a atividade normal do comércio global”, disse.
Para ilustrar esse cenário, Antônio Carlos Amado, representante do porto de Virginia (EUA) no Brasil, comentou que, durante um dia, chegou a contar 30 embarcações paradas no porto esperando para atracar.
Mata destacou, ainda, que desde a pandemia e as interrupções no comércio global, os desequilíbrios regionais vêm persistindo por mais tempo do que de costume. A guerra entre Rússia e Ucrânia é outro fator que tem puxado a crescente dos custos, como energia e gás natural.
No entanto, o cenário de isolamento social mudou alguns hábitos dos consumidores, que passaram a adquirir mais bens de consumo do que serviços em razão dos bloqueios. Segundo Alejandro, no último trimestre de 2021, a taxa de gastos foi maior com os bens do que com serviços, o que continua impulsionando o e-commerce.
O executivo da Fastmarkets RISI também reforçou a tendência do uso de papéis em embalagens – prova disso é que 65 países estão banindo ou alterando impostos para promover a redução dos plásticos. Somada ao comércio eletrônico, a substituição de plástico será responsável por cerca de metade do crescimento do volume de embalagens cartonadas a partir de 2023, concluiu.