Printabilidade, personalização e sustentabilidade: os pilares da evolução nas embalagens de papel
De inovações que agregam valor ao produto à transformação da indústria em direção à economia circular, especialistas analisam as tendências e desafios que moldam o futuro das embalagens de papel no Brasil
No universo das embalagens de papel, a printabilidade emerge como um conceito central, determinando a qualidade e a eficácia das impressões aplicadas a esse material. De forma abrangente, printabilidade refere-se à capacidade de uma superfície de papel em receber e reproduzir, de maneira uniforme e precisa, as tintas utilizadas nos processos de impressão. Essa característica é vital para assegurar que as imagens, textos e elementos gráficos sejam apresentados com clareza, nitidez e consistência, sem distorções ou manchas que possam comprometer a estética e a funcionalidade da embalagem.
A avaliação desse processo envolve diversos parâmetros, incluindo a uniformidade da aplicação da tinta, a definição dos pontos impressos, a reprodução fiel de tonalidades e a ausência de defeitos como manchas ou borrões. Esses aspectos são influenciados por fatores intrínsecos ao papel, como sua composição, textura, absorção e acabamento superficial. Além disso, o tipo de tinta empregada e o processo de impressão adotado também desempenham papéis cruciais na determinação da qualidade final da impressão.
No contexto da indústria de embalagens de papel, a printabilidade assume uma importância ainda maior. As embalagens não apenas protegem os produtos, mas também servem como ferramentas de marketing e comunicação visual, sendo essenciais para atrair consumidores e transmitir a identidade da marca. Portanto, a capacidade de reproduzir com precisão cores vibrantes, textos legíveis e imagens detalhadas é fundamental para o sucesso comercial de um produto.
Diante disso, a busca por uma printabilidade superior impulsiona inovações tecnológicas e aprimoramentos nos processos de fabricação de papel e impressão. Empresas do setor investem em pesquisas para desenvolver papéis com superfícies mais homogêneas e tratamentos que melhorem a aderência da tinta, além de explorar novas formulações de tintas que ofereçam melhor desempenho em diferentes tipos de papel. Esses esforços visam atender às demandas crescentes por embalagens de alta qualidade, que aliem funcionalidade, estética e sustentabilidade.
PRINTABILIDADE E VALOR AGREGADO: A CONEXÃO ENTRE FORNECEDORES E CONSUMIDORES FINAIS
Para entender o papel estratégico da printabilidade na cadeia de valor global, o Portal Packaging conversou com Rafael Barišauskas, economista da Fastmarkets para a América Latina. Ele destacou como essa etapa está intimamente ligada ao consumidor final, seja uma indústria ou um usuário direto do produto.
“Sob uma ótica de cadeia global de valor, a printabilidade é uma etapa muito próxima ao consumidor final da embalagem, que precisa coordenar de maneira precisa com os fornecedores as especificações das embalagens, cores, formatos, entre outros aspectos”, explica Rafael. Segundo ele, essa proximidade é essencial, já que a transação de especificações tão detalhadas é inviável em cadeias em que comprador e fornecedor estão muito distantes.
Ele também enfatiza a relação de codependência entre compradores e fornecedores: “Os compradores de embalagem precisam de fornecedores muito eficientes e capazes de atenderem às suas demandas. Por outro lado, os fornecedores sabem que os compradores dificilmente irão se aventurar a entrar nesta etapa da cadeia por conta dos elevados custos de entrada e pouco know-how em como fazer”, observa.
De acordo com Barišauskas, é na etapa final da cadeia – a impressão e customização da embalagem – que o produto realmente ganha valor agregado. “Especialmente em papel cartão, que permite criar embalagens para o consumidor com alto grau de detalhamento e qualidade, garantindo o aspecto de luxo ou de produto de alto valor”, afirma. Ele destaca que é nesse momento que a indústria “descommoditiza” o papel para embalagem, transformando-o em um produto criativo e com identidade própria.
OS FATORES-CHAVE PARA UMA PRINTABILIDADE DE EXCELÊNCIA
A printabilidade é um conceito que une precisão técnica, inovação tecnológica e processos industriais modernos, sendo essencial para a criação de embalagens de alta qualidade. No entanto, essa busca por excelência depende de um cuidado minucioso em todas as etapas do processo produtivo, algo evidenciado por dois executivos do setor: Ronalt Brasilio Santos, diretor de P&D e Qualidade da Ibratec; e Richard Streck, diretor da Print Indústria de Artes Gráficas.
Fundada há 37 anos, a Ibratec é especializada na produção de embalagens de papel cartão voltadas para bens de consumo, com forte atuação nos mercados alimentício, de higiene pessoal, doméstica, cosméticos, bebidas e farmacêutico. A empresa opera duas plantas de alto padrão tecnológico em Itapevi e Araçariguama, no estado de São Paulo, e possui um amplo armazém em Itapevi, empregando mais de 1.000 colaboradores. “Nossa estrutura nos permite atender grandes volumes sem abrir mão da qualidade, algo que consideramos essencial no mercado atual”, afirma Santos.
Já a Print, com quase cinco décadas de história, atende às regiões Sudeste e Sul do Brasil a partir de sua planta na zona sul de São Paulo (SP). Com capacidade para produzir 350 milhões de embalagens por ano e um time de aproximadamente 100 colaboradores, a companhia se destaca pela modernidade de seus equipamentos e gestão profissionalizada. “Nosso parque gráfico é bastante novo, com idade média de cerca da metade da média nacional, segundo dados da ABIGRAF. Isso nos dá uma vantagem competitiva em termos de eficiência e inovação”, aponta Streck.
Tanto a Ibratec quanto a Print reconhecem que o sucesso de suas operações depende de um controle rigoroso em todas as etapas do processo produtivo. Para Ronalt, a printabilidade é “a habilidade do papel em reproduzir, com precisão, um padrão aprovado, transformando ideias e projetos em resultados físicos de alta qualidade”. Ele destaca que esse padrão começa na pré-impressão, etapa essencial para garantir a fidelidade ao desejo do cliente. “O resultado final de um processo gráfico depende de uma série de variáveis, que devem ser muito bem definidas não somente durante, mas também antes da impressão propriamente dita”, indica.
Richard complementa: “Para alcançar a excelência, é fundamental trabalhar com substratos com características uniformes e estáveis. Isso garante consistência na impressão, especialmente em projetos que exigem alto detalhamento gráfico”. Ele também reforça a importância dos insumos, como tintas e vernizes, que precisam ser normatizados e homologados para assegurar os altos padrões de qualidade da Print. “A qualidade das tintas é crucial para a estabilidade colorimétrica e física, garantindo que o resultado final atenda às expectativas dos nossos clientes”.
O diretor de P&D e Qualidade da Ibratec também fala sobre os papéis como um dos elementos mais críticos no processo de printabilidade: “Papéis de alta lisura garantem uma melhor definição das imagens, enquanto papéis com porosidade controlada evitam a absorção excessiva de tinta, resultando em uma impressão mais uniforme. Esses fatores são indispensáveis para obter um acabamento impecável”, aponta.
Além disso, a tecnologia dos equipamentos é um diferencial tanto na Print quanto na Ibratec. “As máquinas impressoras offset possuem alta tecnologia, o que nos permite alcançar resultados excepcionais em termos de qualidade de impressão, fidelidade e estabilidade das cores”, afirma Ronalt. O executivo também salienta que a manutenção dos equipamentos e ajustes técnicos – como a regulagem dos cilindros e dos rolos de tinta e água – são indispensáveis para evitar problemas como ganho de ponto ou repinte. Richard reforça essa visão, destacando que o maquinário moderno da Print além de ter baixo consumo de energia, também reduz o desperdício de papel durante os ajustes. “Isso é um ganho tanto em eficiência operacional quanto em sustentabilidade, algo que o mercado exige cada vez mais”, observa.
Outro ponto enfatizado por ambos os executivos é a relevância do controle ambiental. “A estabilidade das condições de temperatura e umidade na sala de impressão é essencial para garantir uniformidade e qualidade”, aponta o diretor da Print. Para Santos, por sua vez, esse controle é um reflexo da atenção meticulosa que a Ibratec dedica a todas as etapas de produção. “Todo o processo gráfico, desde a pré-impressão até os ajustes finais, precisa ser tratado com o máximo de cuidado para que a printabilidade atenda às expectativas e traduza a visão do cliente com precisão”.
Esses cuidados rigorosos refletem o compromisso das empresas em entregar embalagens que combinem funcionalidade, estética e excelência técnica. Para Streck, as embalagens deixam de ser meramente funcionais e assumem um papel estratégico no branding das marcas. “Estamos transformando embalagens em verdadeiras experiências visuais e táteis para o consumidor final, agregando valor não apenas ao produto, mas à percepção da marca como um todo”, conclui.
TENDÊNCIAS: PERSONALIZAÇÃO E INOVAÇÃO NAS EMBALAGENS GRÁFICAS
O mercado de embalagens está em constante evolução, impulsionado por demandas como personalização, inovação estética e sustentabilidade. Esses fatores vêm redefinindo o papel das embalagens não apenas como suporte funcional, mas também como peça estratégica para marcas e consumidores.
Para Rafael Barišauskas, a personalização é uma das tendências centrais que mais agregam valor à cadeia produtiva: “É justamente pela personalização e pela capacidade de atender à demanda de compradores de forma granular e individual que a indústria adiciona muito valor à embalagem e ao produto”, explica. Ele observa que, no contexto de consumo, experiências únicas de unboxing, com materiais e designs de alta qualidade, não só fidelizam clientes, como também geram visibilidade nas mídias sociais.
Dessa forma, Rafael ressalta que a integração vertical é um movimento estratégico para garantir escalabilidade e competitividade no setor. “O movimento de integração ponta a ponta na cadeia é uma questão de sobrevivência de longo prazo para empresas que desejam ser price makers, e não apenas price takers, pois garante melhor uso das vantagens comparativas na produção e na personalização das embalagens”.
Enquanto isso, Ronalt traz uma perspectiva técnica, apontando que, embora a personalização ainda não seja o foco em segmentos de bens de consumo e altos volumes, a busca por inovações no design é evidente. “As tendências estão mais relacionadas ao ‘embelezamento’, com inclusão de elementos de maior valor agregado, como relevos com alto nível de detalhamento, texturas, aplicações de vernizes diferenciados – como alto brilho e soft touch – e o aumento na demanda por hot stamping”, afirma o executivo. Ele aponta que a Ibratec já ampliou sua capacidade para atender a essa crescente procura, ao mesmo tempo em que mantém o foco em eficiência operacional, crucial para atender às linhas de envase cada vez mais exigentes.
Por sua vez, Richard ressalta que a personalização também é um elemento de destaque no mercado gráfico, manifestando-se em duas frentes distintas. “Uma delas é a utilização de dados variáveis, personalizando revistas, folders e outros materiais para consumidores finais específicos. A outra, que é nosso principal foco, está relacionada à personalização das linhas de produtos dos Brand Owners, em que cada produto de uma linha pode ser personalizado, mantendo uma identidade corporativa padronizada”, explica. Ele acrescenta que a Print tem investido em capacidades de impressão que incluem cores especiais, metalizadas, fluorescentes e tintas de segurança, contando com acabamentos diferenciados como alto relevo, hot stamping e vernizes especiais UV.
SUSTENTABILIDADE: A NOVA BASE PARA A INDÚSTRIA DE EMBALAGENS
O compromisso com a sustentabilidade tem se tornado uma prioridade para o setor gráfico, à medida que mudanças climáticas e demandas por responsabilidade ambiental transformam os mercados globais. No Brasil, empresas como a Ibratec e a Print estão liderando iniciativas para tornar seus processos produtivos mais sustentáveis, reforçando o papel das embalagens como ferramentas que vão além da funcionalidade e do design.
Para Ronalt Santos, a sustentabilidade está incorporada em cada projeto desenvolvido pela Ibratec. Ele destaca que todas as embalagens de papel cartão produzidas pela companhia são 100% recicláveis e têm sua origem em matérias-primas certificadas. “A Ibratec possui certificação FSC (Forest Stewardship Council) há 18 anos, garantindo que 100% das matérias-primas (papel cartão) são provenientes de origens controladas, renováveis e sem desmatamento”, comenta.
A empresa também está à frente em neutralização de emissões de carbono. Desde 2020, a totalidade de sua produção, que em 2024 deve alcançar 4 bilhões de embalagens por ano, tem as emissões de gases de efeito estufa neutralizadas. Além disso, o executivo destaca um recente investimento realizado em 2023 para transição completa da matriz energética para fontes 100% renováveis e rastreáveis.
Já a Print compartilha uma visão semelhante, apostando na rastreabilidade e no uso responsável de recursos. “Utilizamos somente papéis certificados, que possuem rastreabilidade de que provêm de florestas plantadas e posteriormente colhidas, e não de corte de árvores de florestas nativas”, destaca Richard Streck. A empresa também adota papéis com fibras recicladas em sua composição, variando de 15% a 100%, dependendo da aplicação e do tipo de envase.
O executivo também aponta a implantação de um programa de logística reversa, que assegura a destinação ambientalmente correta de todos os insumos e subprodutos gerados no processo produtivo. “A sustentabilidade dos produtos e dos processos de fabricação tem ganhado cada vez mais relevância, não somente diante das mudanças climáticas, mas também pela necessidade da mudança da economia linear para a economia circular, visando a preservação e a utilização mais racional dos recursos do planeta”, conclui.
Essas iniciativas exemplificam como a sustentabilidade está se tornando um pilar estratégico no setor gráfico. Empresas como a Ibratec e a Print demonstram que a adoção de práticas ambientalmente responsáveis não apenas atende às demandas regulatórias e sociais, mas também cria oportunidades de mercado, oferecendo soluções alinhadas aos valores dos consumidores e à preservação do meio ambiente.
Ao alinhar eficiência operacional, inovação e responsabilidade ambiental, a indústria gráfica brasileira avança para se posicionar como referência global em sustentabilidade, transformando desafios em oportunidades de crescimento sustentável.