Penha e Trombini estão sob a mira de grandes empresas do setor
Os ativos das empresas podem estimular uma nova onda de consolidação na indústria de embalagens de papelão ondulado

Grandes companhias papeleiras, brasileiras e multinacionais, estão avaliando possíveis aquisições de empresas de médio porte no país, o que pode estimular uma nova onda de consolidação na indústria de embalagens de papelão ondulado.
Segundo apurado pelo Valor Econômico, as fabricantes Penha e Trombini Embalagens estão sob a mira de diferentes grupos, no entanto, os preços dos ativos ainda geram impasses para a conclusão dos negócios.
GRUPO PENHA
De acordo com fontes do mercado, a Penha já estava em um processo avançado de venda, com o interesse da americana WestRock, a chilena CMPC e a irlandesa Smurfit Kappa (SK), bem como as nacionais Klabin e Irani. Contudo, enquanto a produtora de embalagens pediu R$ 2 bilhões pelos ativos, as propostas chegaram a aproximadamente R$ 1 bilhão, metade do que a companhia propôs.
A SK seria a organização à frente na disputa, porém teria apresentado uma proposta por parte das operações, à medida que a empresa insiste em vender o pacote completo de ativos. A Irani, por sua vez, segue interessada, conforme indicam as fontes. Já a Klabin, que costuma avaliar tais oportunidades, não se manteve engajada nesse processo.
Com sede em Itapira (SP), a Penha está presente em quatro estados brasileiros – São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Bahia – e possui fábricas de papel, embalagens e de reciclados. Segundo balanço do ano passado, a empresa registou receita líquida consolidada de R$ 1,39 bilhão, crescimento de 4% ante o ano de 2021, com lucro líquido de R$ 234 milhões.
TROMBINI EMBALAGENS
Já a Trombini, que também foi colocada à venda, precisaria obter números mais robustos antes de fechar negócio, de acordo com fontes. O valor pedido pelos controladores da empresa seria de mais de R$ 1 bilhão para aquisição de seus ativos. Suas fábricas de celulose e papel, papelão ondulado, papel reciclado e sacos estão localizadas na região sul, nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Em 2022, a companhia obteve receita líquida de R$ 1,65 bilhão – frente a R$ 1,53 bilhão em 2021 – com lucro líquido de R$ 106,3 milhões.
O Itaú BBA está liderando ambos os processos de venda. Para os ativos da Penha, o banco aguarda melhores propostas para que as negociações sejam retomadas. No caso da Trombini, os possíveis interessados aguardam um diagnóstico financeiro da empresa para avaliar os números.
FUSÕES E AQUISIÇÕES
A pandemia foi um grande impulsionador do mercado de embalagens, com o crescimento exponencial do e-commerce e delivery que aumentou a demanda da indústria papeleira.
Nesse período, em 2020, a Klabin comprou os ativos de embalagens da International Paper no Brasil, por R$ 330 milhões – se mantendo como líder de mercado, com participação de 24%.
Já em 2022, a CMPC assumiu o controle das fábricas e dos ativos florestais da Iguaçu Celulose e Papel, por cerca de R$ 950 milhões, o que marca sua entrada neste segmento no Brasil.
Em geral, o setor tem passado por movimentações intensas de fusões e aquisições no país. Após a compra da Fibria pela Suzano (2018), empresas familiares viraram alvo de gigantes de fora do país – a antiga Lwarcel foi comprada pela asiática Royal Golden Eagle (RGE), a Eldorado Brasil Celulose foi comprada pela Paper Excellence (embora ainda siga em disputa judicial com a J&F Investimentos pelo controle da empresa), as japonesas Daio e Marubeni adquiriram a Santher, enquanto a Softys, subsidiária da CMPC, comprou a Sepac e a Carta Fabril.
Dessa forma, as grandes empresas do setor estão em busca de empresas de pequeno e médio portes para expandir seus negócios no país. Isso se aplica especialmente ao segmento de embalagens, que tem apresentado um crescimento estrutural da demanda doméstica, alimentando um novo ciclo de investimentos em nova capacidade produtiva ou fusões e aquisições.
DEMANDA POR PAPELÃO ONDULADO
Conforme a Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), este ano é esperado um crescimento na ordem de 3% a 3,5% nas expedições de chapas, placas e acessórios de papelão, apesar do leve recuo no ano passado. Segundo a associação é possível que o setor volte a superar a marca de 4 milhões de toneladas expedidas.
O comércio eletrônico continua sendo um dos principais motores de consumo de papelão ondulado no Brasil, além da colaboração da substituição do plástico de uso único por materiais mais sustentáveis. Durante a pandemia, o avanço do e-commerce impôs desafios ao setor, que alcançou 100% de ocupação e teve de alongar prazos de entrega para conseguir atender ao salto abrupto da demanda.
À reportagem do Valor Econômico, as empresas CMPC, Smurfit Kappa, WestRock, Irani e Klabin não comentaram o assunto. A Penha também não deu declarações. Já a Trombini disse que “a informação não procede” e que “a empresa não está à venda”.