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Os desafios dos aparistas de papel em 2025

Por executivos da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap)

Recentemente, a Anap divulgou os resultados do setor de aparas de papel em 2024, um estudo realizado com a consultoria GO Associados, do economista Gesner Oliveira. Em linhas gerais, o levantamento mostra que o consumo de papel reagiu ligeiramente neste ano, porém, o setor ainda sofre com preços baixos, aumento no custo fixo e falta de incentivo fiscal. Além disso, houve forte aumento das importações, uma concorrência ruim para os aparistas locais, já que há insumo suficiente para atender o mercado interno. Este é um bom resumo do que passamos em 2024.

Apesar da recuperação na demanda em 2024, o cenário para os aparistas de papel continua negativo, já que as bases de comparação no estudo da GO foram prejudicadas pelo volume excessivamente baixo na demanda no ano passado, quando o setor passou por uma severa crise. Os preços pagos pela indústria estão deprimidos e atualmente representam apenas 50% dos valores obtidos em outubro e novembro de 2021, quando houve um pico de alta, e durante a pandemia, quando os valores também reagiram. 

Vejamos os números mais detalhadamente. Por exemplo, o consumo de papel para embalagem e para imprimir e escrever apresentou reação nos três primeiros trimestres deste ano e em comparação a 2023.  Na passagem do segundo para o terceiro trimestre deste ano, foi registrado crescimento de 1,33% – com alta de 0,55% do consumo de embalagens e de 2,59% de papel para imprimir e escrever –, conforme o estudo da GO Associados. Em relação ao ano passado, foram registradas altas de 6,1% no primeiro trimestre, 7,1% no segundo e 5,2% no terceiro trimestre de 2024, na comparação com os respectivos trimestres de 2023. 

No terceiro trimestre, o total importado de aparas foi de US$ 4,96 milhões, aumento de 222% na comparação com o trimestre anterior. Considerando o ano, o montante foi de US$ 6,22 milhões, a maior parte proveniente dos Estados Unidos (76%). 

QUAL A EXPECTATIVA PARA O PRÓXIMO ANO?

Em nossa avaliação, temos um bom horizonte em 2025, se algumas pontas do nosso setor se fecharem e houver uma preocupação maior do governo com o setor de reciclagem e economia circular, essencial na preservação do meio ambiente. 

Uma das principais expectativas do setor são os decretos do plástico e do papel – prometidos pelo governo –, que podem pressionar positivamente a demanda por resíduos recicláveis, garantindo destino correto e um melhor cenário para os aparistas de papel e outros segmentos da reciclagem. Esses decretos vão definir qual o percentual mínimo que a indústria terá de adquirir dos recicladores de papel e plástico na sua produção. Atualmente, grandes indústrias de embalagens, por exemplo, estão preferindo usar celulose e polímeros virgens na produção, em detrimento de matéria-prima reciclada. 

Outro ponto positivo é o avanço no Congresso do Projeto de Lei 1.800/21, que isenta recicladores e cooperativas de catadores do pagamento de PIS e Cofins na venda de materiais reciclados à indústria de transformação. Esse PL já foi aprovado por todas as comissões da Câmara e recentemente encaminhado pelo presidente da Casa, Arthur Lira, ao Senado. O Projeto de Lei pode solucionar a distorção criada pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que julgou inconstitucional, em 2021, benefício existente na Lei nº 11.196/2005 (Lei do Bem), que previa a isenção de PIS/Cofins nas vendas de recicláveis à indústria de transformação. 

Outra expectativa é de que na reforma tributária, ainda em análise, a reciclagem seja beneficiada com um tratamento diferenciado, diante da sua importância para o planeta. Na proposta em discussão, a reciclagem ficou fora da reforma. 

Além disso, o setor carece de linhas de financiamento para investimentos e, para isso, seria importante um apoio do BNDES. A primeira conversa com representantes do BNDES ocorreu durante a exposição “Waste Expo”, em outubro. Participaram desse encontro representantes das principais instituições de classe que atuam na reciclagem. Apresentamos dados importantes do setor, como geração de emprego, volume de resíduos coletados e destinados corretamente, capacidade produtiva e faturamento. Nosso objetivo com isso era demonstrar as dificuldades como custo de capital elevado para novos investimentos e perda de produtividade com o aumento da idade média de ativos operacionais, discutindo assim a necessidade de linhas específicas para a reciclagem.  

Estudo divulgado recentemente pela Anap, com base em dados levantados pela consultoria MaxiQuim, uma das mais respeitadas do Brasil, mostra que entre 2018 e 2023 o setor deixou de investir cerca de R$ 780 milhões na renovação da frota de caminhões por falta de recursos. A frota de veículos em 2018 tinha 8,8 anos em média e no passado 10,9 anos. 

São desafios e oportunidades que enfrentaremos como sempre fizemos.  

Que venha 2025 e que seja melhor para todos. 

Este artigo reflete as opiniões do colunista e não do Nexum Group/Portal Packaging. O veículo não se responsabiliza pelas informações publicadas acima e/ou possíveis danos em decorrência delas.

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ANAP Associação Nacional dos Aparistas de Papel

A coluna da ANAP é assinada por Marcelo Bellacosa, presidente da ANAP e CEO da SCRAP Ambiental; João Paulo Sanfins, vice-presidente da ANAP e sócio-diretor do Grupo CRB (Comércio de Resíduos Bandeirantes); Gabriel Vicchiatti, conselheiro da ANAP e CEO da Vicchiatti Ambiental; e Fábio Suetugui, conselheiro da ANAP e gerente da Repapel.
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