Mercado de papel para embalagens no Brasil
Por Pedro Vilas Boas, proprietário da Anguti Estatística e presidente da Associação dos Aparistas de Papel (ANAP)

A indústria de papel no Brasil começou, de fato, no início do século XX, com a reciclagem de papéis importados que foram, inicialmente, direcionados para a produção de dois tipos: papéis para embrulhos ou, tecnicamente, papéis para embalagens leves e papéis de fins sanitários.
O aumento no uso de embalagens rígidas deu início à reciclagem para a produção do chamado papelão cinza e também o papelão paraná, que é produzido utilizando a pasta mecânica.
Nessa época, era comum que a secagem do produto fosse feita ao sol, o que exigia grandes áreas e muitos empregados, mas, rapidamente essas embalagens foram trocadas pelas caixas de papelão ondulado e, assim, assistimos ao grande desenvolvimento dos papéis para produção dessas caixas.
Até o início da década de 60, ainda registrávamos bom desempenho dos papéis para sacos, que reinaram absolutos até o surgimento das sacolas plásticas que relegaram esse papel aos segmentos de cimento e para uso em padarias onde, devido a demandas técnicas, o plástico não conseguiu se estabelecer.
É bem verdade que o papel para sacos vem conseguindo recuperar alguns mercados e o saco de papel já volta a ser visto embalando café para exportação, além de, no mercado interno, recuperar parcialmente o mercado de farinha de trigo.
PAPÉIS DE EMBALAGENS
Os papéis de embalagens representaram, em 2021, 54% de toda a produção de papel brasileira, o que significou, segundo dados da Ibá, 5,73 milhões de toneladas.
Composição da produção brasileira de papéis em 2021

Mais importante que a participação no setor, os papéis de embalagem vêm apresentando um crescimento sólido e, neste milênio, até 2017, registramos um incremento de 71% na produção deste produto, inferior apenas ao bom desempenho observado para os papéis de fins sanitários que, contudo, representam apenas 13% da produção nacional.
Evolução da produção brasileira de papéis
Se analisarmos a produção anual desde 1970, ou nos últimos 51 anos, observamos que em apenas 7 anos foi registrada uma queda em relação ao ano anterior.
Evolução da produção de papéis de embalagem

Quando relacionamos a produção de papéis de embalagem com o PIB, encontramos uma forte correlação – o que, aliás, era de se esperar já que as embalagens de papel permeiam por todos os setores sendo dependente diretamente do crescimento do país, o que é medido pelo PIB.
Correlação entre produção de papel e PIB

Na prática, podemos dizer que para cada 1% no PIB a produção de papel de embalagem cresce 1,5%.
Conforme classificação elaborada pela ANFPC – Associação Nacional dos Fabricantes de Papel e Celulose – hoje Indústria Brasileira de Árvores –, ainda na década de 1960, os papéis de embalagem constituem uma família de 31 tipos de papéis e está bastante desatualizada, mas, de forma mais factível, são divididos em 3 grupos: papéis para embalagens leves e embrulhos; papéis para embalagens pesadas; e papéis para papelão ondulado.
Estimativa da composição da produção brasileira de papéis para embalagens

Os papéis para papelão ondulado, além de representarem 84% da produção total, constituem a única categoria que vem apresentando um crescimento sólido e sustentável e, embora também enfrente problemas no mercado – principalmente com a concorrência de outros produtos para embalagens, como o plástico –, vem demonstrando versatilidade e custos competitivos que lhe dão condições de enfrentar seus concorrentes e, inclusive, ganhar novos mercados, como, por exemplo, na área de produtos hortifrutigranjeiros.
Um recente levantamento, realizado no Ceasa da cidade de São Paulo, apontou que a presença de embalagens de papelão ondulado já é superior às embalagens de madeira.
Esta categoria é composta por 4 produtos: kraft liner, testliner, white top liner (wtl) e papel miolo. Importante é o fato de apenas o kraft liner ser produzido a partir de fibras virgens, sendo os demais produzidos a partir da reciclagem das próprias caixas de papelão, além de uma pequena participação de aparas de papel kraft. Já no caso do white top liner, os fabricantes usam também a apara de papel branco, mas a crescente escassez dessas aparas vem provocando aumento no uso de celulose fibra curta branqueada de eucalipto
Estimativa da produção brasileira de papéis para caixas de papelão ondulado

Embora o kraft liner represente 40% da produção nacional, é importante considerar que os volumes exportados são altos e o consumo interno fica em patamares bem abaixo da produção. O papel miolo também tem exportações, mas o volume não é significativo em relação à sua produção.
Ainda, se considerarmos que a produção dos demais papéis fica praticamente toda no mercado interno, teríamos a seguinte composição para a caixa de papelão ondulado brasileira.
Estimativa da composição média da chapa de papelão ondulado produzido no Brasil

O único papel que tem um volume destinado ao mercado externo expressivo é o kraft liner, e, até recentemente, seu consumo interno apresentava um crescimento pequeno, pois os fabricantes nacionais – todos recicladores – têm no papel testliner um substituto adequado para quase todas as aplicações das caixas de papelão.
Recentemente, dois grandes projetos da Westrock e Klabin aumentaram substancialmente a produção de kraft liner, alterando o panorama do mercado e diminuindo o consumo de papel reciclado – mesmo considerando que o maior volume destas novas capacidades foi destinado ao mercado externo.
Como foi dito, entre os demais papéis para caixas, apenas o miolo registra algum volume nas exportações; os demais praticamente não são exportados e, com relação às importações, não observamos volumes significativos para nenhum dos 4 tipos.
Composição das exportações de papéis para caixas de papelão ondulado – 2022

Como visto anteriormente, o kraft liner representa apenas 27% da caixa brasileira, sendo os demais 73% cobertos por papéis reciclados dos quais o papel miolo representa 49%. Além disso, se olharmos o crescimento das produções de todos os tipos, no quadro seguinte, podemos concluir que o crescimento do setor está baseado nos papéis reciclados.
A possibilidade de operar com máquinas menores e a proximidade das aparas que podem ser coletadas em regiões mais próximas das empresas também são fatores que impactam na produção maior de papéis reciclados. Ao final de 2017, encontramos 74 fábricas distribuídas por 13 estados, mas com grande concentração nas regiões sul e sudeste.
Distribuição das fábricas brasileiras de papel para caixas

Com tantas fábricas reciclando é fácil imaginar a importância que a matéria-prima tem para o setor. Considerando apenas os papéis para embalagem, o Brasil reciclou, em 2021, 4,3 milhões de toneladas de papel, sendo 4,1 milhões originadas no mercado interno, o que correspondeu a 64,8% do consumo aparente de papéis para embalagens.
Volume de aparas recicladas na produção de papéis para embalagem
Resumindo, temos um setor pujante que, embora tenha enfrentado problemas nos últimos anos, deve reestabelecer sua trajetória de crescimento, mas sempre considerando que as embalagens de papel estão presentes em todos os setores da indústria e seu desempenho sempre dependerá do desempenho da economia do país.
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