Mercado de papéis reciclados enfrenta desafios apesar de leve recuperação em 2024
Setor lida com preços baixos das aparas, aumento das importações e altos custos operacionais, enquanto projeta impacto de mudanças econômicas e demandas por fibra virgem em 2025
O segmento de papéis reciclados, especialmente o que envolve os aparistas — responsáveis por adquirir resíduos de papel de cooperativas, sucateiros e catadores e fornecer aparas recicláveis para fabricantes — registrou uma leve recuperação ao longo de 2024. No entanto, as projeções para 2025 apontam para um cenário desafiador.
Nos três primeiros trimestres de 2024, o consumo de papéis apresentou melhora em comparação ao mesmo período de 2023, o que gerou um aumento de insumos para a indústria recicladora. Contudo, os baixos preços das aparas, o crescimento das importações e os custos operacionais elevados continuam sendo entraves à recuperação completa do setor.
De acordo com dados de um estudo realizado pela consultoria GO para a Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap), o consumo de papéis para embalagens e para impressão e escrita aumentou 1,33% do segundo para o terceiro trimestre de 2024. Em relação a 2023, houve altas de 6,1% no primeiro trimestre, 7,1% no segundo e 5,2% no terceiro trimestre.
Segundo João Paulo Sanfins, vice-presidente da Anap, a recuperação está relacionada à forte demanda gerada no Rio Grande do Sul após as enchentes ocorridas em abril e maio, que impulsionaram a reconstrução no estado. “A economia também vinha reagindo no início do ano, o que ajudou a estimular o consumo de embalagens”, explicou Sanfins.
DESAFIOS PERSISTENTES PARA OS APARISTAS
Apesar do cenário de recuperação parcial, os aparistas ainda enfrentam dificuldades significativas. Atualmente, os preços pagos pela indústria por aparas recicladas correspondem a apenas 50% dos valores registrados em outubro e novembro de 2021. Durante aquele período, o quilo da sucata de papelão chegou a custar R$ 2,00. Desde então, com o excesso de oferta de papéis de fibra virgem no mercado interno e externo, muitos fabricantes de embalagens optaram por substituir materiais reciclados, o que reduziu drasticamente os preços das aparas. Em 2022, o preço mínimo chegou a R$ 0,50 por quilo e atualmente está em torno de R$ 1,05.
Outro fator que impacta o setor é o aumento das importações de resíduos. Dados do terceiro trimestre de 2024 apontam para a entrada de quase 21 mil toneladas de resíduos no país, um aumento de 222% em relação ao trimestre anterior. Ao longo do ano, as importações somaram US$ 6,22 milhões, com 76% desses materiais provenientes dos Estados Unidos. Embora a demanda no Rio Grande do Sul tenha contribuído para o aumento das importações, Sanfins acredita que também houve uma tentativa da indústria de reduzir os preços no mercado nacional.
PRESSÕES ECONÔMICAS E PREFERÊNCIA POR FIBRA VIRGEM
O aumento dos custos operacionais é outro obstáculo. “A aquisição de veículos aumentou 10% nos últimos dois anos. Isso tem sido um grande desafio, já que o setor de reciclagem depende 100% de logística”, afirmou o vice-presidente da Anap.
Adicionalmente, a diferença na qualidade das impressões em embalagens de papel reciclado está impulsionando a preferência pela fibra virgem. “O crescimento vertiginoso do comércio online está criando uma demanda por embalagens de alta qualidade, o que pode gerar uma preferência por fibra virgem, já que na fibra reciclada a qualidade é menor”, explicou o executivo.
PERSPECTIVAS PARA 2025
A expectativa para 2025 é de avanço na produção de celulose, com projetos como o Cerrado, da Suzano, que tem capacidade para produzir 2,55 milhões de toneladas. A tendência de maior utilização de fibras virgens devido à demanda do e-commerce também representa um desafio para o setor de papéis reciclados.
Para amenizar os impactos das oscilações de mercado, o segmento está pleiteando medidas junto ao governo, como a implementação de um decreto que obrigue a logística reversa e exija um percentual mínimo de material reciclado nos produtos. “A recuperação do mercado dependerá do equilíbrio entre a oferta e a demanda por materiais recicláveis e das políticas públicas voltadas para a responsabilidade do produtor”, concluiu Sanfins.