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Estímulos podem dobrar geração de empregos na reciclagem de papel

Por executivos da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap)

A geração de empregos no Brasil, que vem crescendo no atual governo, poderia ser ainda maior caso houvesse um estímulo adicional à reciclagem do papel pós-consumo, como embalagens, por exemplo. Essa medida daria um impulso à coleta seletiva e ao trabalho dos catadores de recicláveis, que somam mais de 800 mil pessoas no Brasil, segundo dados do Ministério do Trabalho (2023). 

Um dos principais incentivos aos aparistas de papel, com potencial de criar milhares de empregos, seria a publicação do decreto que obriga as indústrias de embalagens a utilizar um percentual fixo de insumo reciclado na produção. A medida foi prometida pelo presidente Lula para o final do ano passado, após a publicação de outro decreto com a mesma finalidade para o setor de plástico, mas foi adiada mais uma vez, sem qualquer explicação das autoridades. 

No último dia 22 de março, Dia Mundial da Água, os recicladores de plástico aguardavam o anúncio do decreto — cujo texto final está pronto —, mas novamente as novas regras foram postergadas. O decreto prevê a obrigatoriedade de utilização de ao menos 30% de material reciclado no processo de produção. No caso do papel, no entanto, é necessário que esse percentual seja superior a 60% para que a medida tenha impacto real no segmento. 

O potencial de criação de empregos com o decreto seria enorme. Na avaliação da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap), responsáveis por reciclar mensalmente milhares de toneladas de material recolhido das ruas pelos catadores e entregue também pelo comércio varejista, atacadistas e indústria, apenas entre as empresas do setor o número de funcionários poderia dobrar: de 40 mil para 80 mil. A indústria de gestão de resíduos como um todo no Brasil tem potencial de criar entre 197 mil e 244 mil empregos, segundo relatório elaborado pela Fundação Dom Cabral e o Instituto Atmos, caso haja mais estímulos e investimentos no setor. 

Estudo recente elaborado pela consultoria GO Associados, do economista Gesner Oliveira, a pedido da Anap, mostra que o cargo de preparador de sucata e aparas está com alta demanda no mercado de trabalho nos últimos meses. Na comparação entre fevereiro de 2024 e janeiro de 2025, houve um aumento de 23,1% nas contratações formais com carteira assinada, de acordo com a Pesquisa do Portal Salário. 

No mesmo período, o preço do conteúdo reciclado teve uma alta de 30%, conforme a Anap. Ou seja, somente o aumento dos preços já aqueceu o mercado de trabalho do setor. Com estímulos fiscais e aumento da demanda — que ocorreria com o decreto —, o número de contratações poderia dar um salto ainda maior. 

Medidas de incentivo à reciclagem de papel, segundo estudos da Anap, poderiam elevar em 1 milhão de toneladas a coleta de material reciclado. A expectativa é de que seja retomado o recorde obtido em 2018, quando foram coletadas pelos aparistas 5,5 milhões de toneladas — quantidade que caiu para 4,5 milhões em 2023. A queda se deve, principalmente, ao maior uso pela indústria de celulose no lugar do papel reciclado, diante da ausência de obrigatoriedade na sua compra. 

Além disso, o aumento da demanda poderia levar os aparistas a renovar sua frota de caminhões, atualmente envelhecida. A Anap estima que, com 2 mil caminhões a mais, haveria necessidade de ao menos 5 mil funcionários adicionais. Conforme a entidade, há uma necessidade urgente de renovar a frota de caminhões, antiga e poluente. Estima-se que, nos últimos cinco a sete anos, aproximadamente R$ 780 milhões deixaram de ser investidos na modernização dos equipamentos — o que reflete uma dificuldade crescente em acompanhar a evolução do mercado e atender às demandas por maior competitividade. 

A reciclagem já é atualmente responsável pelo sustento de quase 1 milhão de catadores, que dependem da atividade para sobreviver. Se não houvesse catadores autônomos, o custo das prefeituras iria explodir, além de o Executivo ser obrigado a gastar ainda mais com programas sociais, como o Bolsa Família. 

Neste ano, em que o Brasil será sede, em novembro, em Belém do Pará, do maior evento de meio ambiente do mundo — a COP30 —, o governo terá a oportunidade de mostrar a todos os países como trata o setor de reciclagem, um dos mais importantes na preservação do planeta e na limpeza das cidades. 

O estímulo à geração de emprego é hoje uma das prioridades do governo. Os recicladores estão preparados para contribuir. Basta que sejam estimulados e recebam o tratamento que merecem. 

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ANAP Associação Nacional dos Aparistas de Papel

A coluna da ANAP é assinada por Marcelo Bellacosa, presidente da ANAP e CEO da SCRAP Ambiental; João Paulo Sanfins, vice-presidente da ANAP e sócio-diretor do Grupo CRB (Comércio de Resíduos Bandeirantes); Gabriel Vicchiatti, conselheiro da ANAP e CEO da Vicchiatti Ambiental; e Fábio Suetugui, conselheiro da ANAP e gerente da Repapel.
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