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Crise das embalagens plásticas: iniciativas e regulamentações visam reduzir impacto ambiental

Empresas e legislações buscam soluções sustentáveis para enfrentar o excesso de embalagens plásticas descartáveis, enquanto o Brasil enfrenta desafios na reciclagem e no consumo responsável

O plástico é um dos materiais mais versáteis e amplamente utilizados no mundo, mas também um dos maiores vilões do meio ambiente. Desde a década de 1950, mais de 9 bilhões de toneladas de plástico foram produzidos globalmente, dos quais 7 bilhões se tornaram resíduos, acumulando-se em aterros e poluindo ecossistemas de solo e água, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, a produção global de plástico atinge 430 milhões de toneladas anuais, sendo dois terços destinados a itens de uso único que rapidamente se transformam em lixo.

A Packaging and Packaging Waste Regulation (PPWR), regulamentação europeia que estabelece metas para reuso e reciclagem de plástico até 2030, surgiu como uma medida essencial para controlar o impacto ambiental desse material. A PPWR estabelece normas rigorosas, como a obrigatoriedade de rotulagem padronizada e a proibição de embalagens de plástico para certos produtos, visando a reciclagem de alta qualidade e a redução do descarte. Segundo Valéria Michel, diretora de sustentabilidade da Tetra Pak para o Brasil e Cone Sul, a empresa vê a PPWR como uma oportunidade: “Nós damos as boas-vindas à adoção do PPWR como uma oportunidade para toda a indústria de embalagens promover o desenvolvimento de soluções sustentáveis e inovadoras”.

Especialistas apontam que o maior problema está nos plásticos de uso único, como copos descartáveis e sacolas plásticas, que frequentemente acabam em aterros e corpos d’água. Esses itens podem levar até 200 anos para se decompor. Algumas soluções sustentáveis, no entanto, já estão no mercado. “Já existem soluções para isso, como os sacos feitos de bioresina, que são biodegradáveis”, disse Robson Leite, consultor de embalagens e especialista em soluções sustentáveis da Nobelpack, empresa que desenvolve produtos para a Natura e a Cacau Show.

Entre os avanços nesse campo, a Natura lançou a marca Biõme, uma linha de produtos de beleza em barra sem uso de plástico, desenvolvida ao longo de dois anos: “Em 2021, desenvolvemos a marca Biõme, linha de produtos de beleza e cuidados pessoais em barra e com zero plástico. Foram dois anos de pesquisa para chegarmos a uma embalagem feita de papel 100% reciclável, somado a um filme de base celulósica como ‘barreira interna’. E o mais importante: os dois materiais são compostáveis e biodegradáveis”, explicou Leite.

No Brasil, a reciclagem de plástico ainda é um desafio, com uma taxa de apenas 23%, bem abaixo dos 38,1% alcançados pela União Europeia, segundo dados da MaxiQuim e American Chemistry Council. Esse cenário coloca o país em 123º lugar em taxas de reciclagem, de acordo com a organização World Population Review. Carolina Alcoforado, diretora de novos negócios e inovação da Melhoramentos, destacou a importância de uma abordagem colaborativa para superar esses desafios: “A sociedade e o setor industrial enfrentam atualmente os maiores desafios ambientais globais. E superar esses desafios requer uma abordagem colaborativa, envolvendo governos, iniciativa privada, sociedade civil e consumidores”.

A Coca-Cola tem investido em soluções retornáveis, como garrafas PET resistentes que podem ser devolvidas pelos consumidores, evitando o descarte imediato. Segundo Rafael Ramos, diretor técnico e de supply chain da Coca-Cola Femsa, 32% das vendas da empresa em 2023 já foram realizadas em garrafas retornáveis: “Nossa primeira abordagem tem sido aumentar o ciclo de vida de nossas embalagens”, disse Ramos. A empresa também utiliza PET reciclado em suas garrafas, com o objetivo de alcançar 50% de material reciclado até 2030.

A Tetra Pak, pioneira em soluções de embalagens sustentáveis, utiliza polímeros à base de plantas, como a cana-de-açúcar, em suas embalagens cartonadas, o que ajuda a reduzir o impacto ambiental. A empresa também implementou as “tethered caps” – tampas que permanecem presas à embalagem – uma diretriz da União Europeia para reduzir o desperdício de plástico. Essa tecnologia, porém, ainda não é amplamente aceita no Brasil, onde há resistência por parte dos consumidores e desafios no processo de reciclagem.

Apesar dos avanços, especialistas alertam que o caminho para o uso sustentável do plástico ainda é longo. Leite acredita que a conscientização ambiental entre as novas gerações é fundamental. “A esperança está na geração atual, que, ao contrário das anteriores, desde a escola recebe orientação sobre meio ambiente, reciclagem e ecologia”, afirmou o consultor da Nobelpack.

Fonte
Valor Econômico
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