Conexão estratégica: o elo entre a indústria de papel e as instituições de pesquisa
Júlia Gabriela Dick, Coordenadora de Produção de Papel na Trombini Embalagens S/A e mestra em Engenharia e Ciências Ambientais

A indústria de papel e celulose é uma das mais consolidadas e relevantes da economia brasileira, destacando-se pela produtividade florestal, eficiência operacional e atenção às práticas sustentáveis.
No entanto, em um cenário global cada vez mais orientado pela inovação e pela bioeconomia, o fortalecimento das conexões com Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e universidades torna-se um passo estratégico para manter a competitividade e ampliar as fronteiras do setor.
Essas parcerias são capazes de gerar soluções que vão além da melhoria contínua: permitem o desenvolvimento de novos materiais, o avanço da biotecnologia industrial, a valorização de resíduos e a transição para modelos mais circulares. Quando bem estruturada, a interação entre indústria e academia favorece não apenas a inovação técnica, mas também a formação de profissionais preparados para os desafios complexos do setor.
Muitos dos desafios enfrentados pelas empresas do setor — como a busca por processos mais limpos, o aumento da eficiência energética, a redução de impactos ambientais ou a agregação de valor a subprodutos — já estão sendo estudados dentro dos laboratórios e centros de pesquisa espalhados pelo país. O que falta, muitas vezes, é o elo que conecta essas soluções ao ambiente industrial de forma prática e colaborativa.
Apesar das oportunidades evidentes, a aproximação entre a indústria de papel e celulose e as ICTs/universidades ainda enfrenta obstáculos que precisam ser superados para que as parcerias se tornem mais frequentes e produtivas. Um dos principais desafios está na diferença de linguagem e tempo entre os dois mundos. Enquanto a academia trabalha com ciclos longos de pesquisa, voltados à geração de conhecimento e publicações científicas, a indústria opera sob prazos curtos, com foco em resultados aplicáveis e retorno sobre investimento. Essa divergência pode dificultar o alinhamento de expectativas e a continuidade dos projetos conjuntos.
Além disso, a ausência de profissionais com perfil híbrido — que compreendam tanto as necessidades industriais quanto a lógica acadêmica — pode gerar ruídos na comunicação e dificultar a mediação entre as partes.
A aproximação com as ICTs e universidades não é apenas uma oportunidade de acesso a conhecimento e tecnologia, mas uma estratégia para acelerar soluções alinhadas com os princípios da bioeconomia, da circularidade e da eficiência de recursos. Trata-se de um investimento no futuro do setor, capaz de gerar ganhos não apenas técnicos, mas também sociais, ambientais e econômicos.
O futuro não se constrói isoladamente — é na convergência entre ciência aplicada e produção industrial que surgem as soluções que realmente transformam o setor.
Cabe às lideranças industriais dar o primeiro passo: abrir portas, propor agendas comuns e investir em conexões que gerem valor para toda a cadeia.