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Aumento do diesel reduz margem dos aparistas de papel

Por executivos da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap)

O óleo diesel, que teve um reajuste de 6,29% no final de janeiro, é um dos principais custos para o setor de reciclagem de papel, cuja atividade depende fortemente desse insumo. 

Atualmente, o diesel representa aproximadamente 20% dos custos operacionais das empresas aparistas, responsáveis por adquirir papel e papelão dos catadores e recolher anualmente, por meio de sua frota de veículos e caminhões, mais de 4,5 milhões de toneladas de material destinado à reciclagem. Cada vez que o diesel é reajustado, a margem dos aparistas de papel diminui. 

Hoje, a margem EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do setor está entre 3% e 5%. Enquanto isso, uma das maiores indústrias de embalagens do país, que adquire o papel reciclado dos aparistas, obteve uma margem EBITDA superior a 35%, conforme o último balanço divulgado. 

Além do aumento do diesel, a alta taxa de juros, cuja Selic bateu 13,25%, com novas possibilidades de elevação, tem restringido os investimentos necessários para a renovação das frotas, comprometendo a eficiência operacional do setor. Estima-se que, nos últimos cinco a sete anos, aproximadamente R$ 780 milhões deixaram de ser investidos na modernização dos equipamentos, refletindo uma dificuldade crescente em acompanhar a evolução do mercado e atender às demandas por maior competitividade. 

Por outro lado, os recentes reajustes no preço da celulose e a implementação da Lei 15.088/2025, sancionada em 7 de janeiro pelo presidente da República, têm ampliado os desafios enfrentados pelos aparistas. A nova norma, que proíbe a importação de resíduos sólidos e rejeitos – abrangendo materiais recicláveis como papel, plástico, vidro e metal –, tem como objetivo incentivar a cadeia econômica da reciclagem, que atualmente aproveita apenas 4% do lixo gerado no país. Essa política busca fortalecer o mercado interno, mesmo que, no curto prazo, contribua para o repasse dos custos operacionais, especialmente os decorrentes do aumento do diesel. 

Os dados consolidados de 2023 evidenciam que, apesar de o Brasil ter alcançado a coleta de 4,5 milhões de toneladas de papel e papelão, a taxa de reciclagem situou-se naquele ano em 60%, número que contrasta com os quase 70% registrados em 2018. 

Embora o desempenho seja compatível com o de outros países, essa redução ressalta a necessidade de reavaliar as estratégias adotadas e incentivar ações que promovam a recuperação integral dos materiais recicláveis. Investimentos na modernização das frotas e a busca por linhas de crédito com condições mais favoráveis são medidas essenciais para reverter esse quadro e garantir a sustentabilidade econômica do setor. 

Diante desse panorama desafiador, torna-se imprescindível a articulação entre os agentes do setor e as autoridades públicas para desenvolver soluções inovadoras que permitam reduzir os custos operacionais sem comprometer a eficiência da cadeia de reciclagem. 

A superação dos obstáculos econômicos e a implementação de políticas públicas adequadas – como o esperado decreto com percentual mínimo obrigatório de aquisição de insumo reciclado pela indústria, anunciado pelo governo Lula, mas ainda não aprovado – poderão transformar o cenário, promovendo uma economia circular mais robusta e resiliente. 

O compromisso com a sustentabilidade é essencial em 2025, quando o Brasil estará na vitrine do mundo ao sediar, em novembro próximo, a COP30, maior evento de meio ambiente do planeta, em Belém, no Pará. Os recicladores de papel sabem da importância da preservação dos recursos naturais e buscam a contínua modernização e eficiência em suas operações. Mas nada disso será possível sem o apoio governamental, com uma política fiscal adequada ao setor e estímulos para a operação dos aparistas e demais recicladores do país. 

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ANAP Associação Nacional dos Aparistas de Papel

A coluna da ANAP é assinada por Marcelo Bellacosa, presidente da ANAP e CEO da SCRAP Ambiental; João Paulo Sanfins, vice-presidente da ANAP e sócio-diretor do Grupo CRB (Comércio de Resíduos Bandeirantes); Gabriel Vicchiatti, conselheiro da ANAP e CEO da Vicchiatti Ambiental; e Fábio Suetugui, conselheiro da ANAP e gerente da Repapel.
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